Em 2014, Porto Velho viu as águas do rio Madeira tomarem parte da cidade.
Ao longo dos dias, a força das águas serenas tornou-se exercício de aprendizagem. Ver o rio avançar lentamente e com a mesma lentidão retornar ao seu curso normal, ouvir o silencio das pessoas, os lugares vazios de gente e cheios de água, lama, lixo e um rastro de devastação impressionante, tudo isto sem poder fazer nada, provocou muitos sentimentos.
Com uma vivência particular, observar o comportamento das famílias desabrigadas foi, além de impressionante, muito doloroso. Ver o quanto todos falavam de suas perdas e mantinham com esperança seus olhares atentos aos socorros que deveriam ser prestados pelo poder público. Notar que não houve uma única menção ao rio de forma pejorativa ou com ira e, perceber a convicção de todos no que se refere sobre entender, quê, tudo o que acontecia era consequência de ação humana, ser este, responsável pelo problema e também pela solução dele.
À medida que as águas iam de encontro ao seu leito antigo, acompanhar o retorno das pessoas às suas casas e, perceber a capacidade desses moradores em [re]existir foi indescritível e simplesmente emocionante. Com essa nova existência, surgem novas angustias: o que esperar do rio na próxima cheia? O que esperar dos homens no poder na próxima cheia? Como a cidade e o povo irá suportar uma nova cheia? São estas algumas das muitas perguntas que passeiam pelo imaginário dos povos ribeiros oriundos das regiões em torno do Rio Madeira.
Ouvir e refletir sobre estas e outras perguntas deve nos ajudar a compreender porque estas pessoas sempre retornam para suas casas, mesmo quando alguém tenta proibi-las de retornarem, pois, quem volta, em alma e memória, nunca se foi.
Se você pudesse resumir seu ensaio em um som qual seria?
O som da Cachoeira do Teotônio, que foi extinto por influência da instalação de duas Usinas Hidroelétricas em torno do Rio Madeira.
Título do ensaio: Reintegração
O que é fotografia para você?