A longa travessia – Tabatinga – Belém (2018)

Exposição fotográfica de Bertrand de Gouttes

Le rêve d’un soldat enfermé, qui imagine ce que charrie ce fleuve et qui, 22 ans plus tard, vit ce rêve, un rêve de 2 nuits qui a pris 22 ans à se réaliser. Une longue attente…
Bertrand de Gouttes

A capacidade de congelar uma imagem transformando-a num documento imediato e único está na origem do processo fotográfico da Polaroid. Apesar da suspensão definitiva da produção desse tipo de película sensível há alguns anos, Bertrand de Gouttes continuou fotografando com o que sobrou de suas reservas. Como um pintor que escolhe o enquadramento e o tema, a paleta de cores na obra desse artista francês é decidida pelo filme, que tem a capacidade de interpretar a realidade a seu modo pelo fato de estar com sua validade ultrapassada.

Essa recusa do previsível pode ser observada na mostra A Longa Travessia (Tabatinga – Belém) a primeira exposição de Bertrand no Brasil, que teve a curadoria de Marly Porto e montagem da Porto de Cultura. O suporte da sua obra reside na utilização exclusiva desse filme fotográfico, em diferentes formatos, por meio de câmeras simples como pinhole e equipamentos mais sofisticados, como a Konica Instant Press

A mostra trouxe um conjunto de fotografias realizado durante um percurso de 25 dias ao longo do Rio Amazonas, entre os anos de 2016 e 2017, quando Bertrand viajou em diferentes barcos e teve a oportunidade de conviver com os nativos daquela região. Como um antropólogo visual em busca de cenários tomados a partir de um ponto de vista pessoal, a obra de Bertrand se revela sensível, intimista e onírica. 

Resultado de um gesto espontâneo, e ao mesmo tempo prudente, o processo de trabalho do artista é limitado pela quantidade de filmes que carrega consigo. Em plena época da globalização e da transformação digital, onde as imagens afloram com exagero, chega a soar estranho refletir sobre a forma como Bertrand constrói a composição de sua narrativa visual: suas fotografias são atemporais e estranhamente familiares. 

A poesia das cores e das formas traduzem a imprevisibilidade da (im)perfeição do material escolhido por Bertrand que, ao mesmo tempo, é cúmplice dessa vulnerabilidade. O resultado que se vê são imagens coloridas ao acaso com contrastes pouco acentuados, propositadamente danificadas pela relação estabelecida entre o fotógrafo e o inesperado.

A materialidade imediata do objeto único gerado pela fotografia de Bertrand revela a ausência de premeditação sobre seu trabalho. Seu guia, para muito além da razão, é a emoção. 

Exposição realizada na Aliança Francesa, unidade Faria Lima, São Paulo (2018).

Fotografias : Bertrand de Gouttes
Texto crítico : Marly Porto
Assessoria de imprensa : Flávia Fusco Comunicação

Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Informamos ainda que atualizamos nossa Política de Privacidade. Clique em prosseguir para aceitar e navegar em nosso site.