Exposição fotográfica de Bertrand de Gouttes
Le rêve d’un soldat enfermé, qui imagine ce que charrie ce fleuve et qui, 22 ans plus tard, vit ce rêve, un rêve de 2 nuits qui a pris 22 ans à se réaliser. Une longue attente…
Bertrand de Gouttes
A capacidade de congelar uma imagem transformando-a num documento imediato e único está na origem do processo fotográfico da Polaroid. Apesar da suspensão definitiva da produção desse tipo de película sensível há alguns anos, Bertrand de Gouttes continuou fotografando com o que sobrou de suas reservas. Como um pintor que escolhe o enquadramento e o tema, a paleta de cores na obra desse artista francês é decidida pelo filme, que tem a capacidade de interpretar a realidade a seu modo pelo fato de estar com sua validade ultrapassada.
Essa recusa do previsível pode ser observada na mostra A Longa Travessia (Tabatinga – Belém) a primeira exposição de Bertrand no Brasil, que teve a curadoria de Marly Porto e montagem da Porto de Cultura. O suporte da sua obra reside na utilização exclusiva desse filme fotográfico, em diferentes formatos, por meio de câmeras simples como pinhole e equipamentos mais sofisticados, como a Konica Instant Press.
A mostra trouxe um conjunto de fotografias realizado durante um percurso de 25 dias ao longo do Rio Amazonas, entre os anos de 2016 e 2017, quando Bertrand viajou em diferentes barcos e teve a oportunidade de conviver com os nativos daquela região. Como um antropólogo visual em busca de cenários tomados a partir de um ponto de vista pessoal, a obra de Bertrand se revela sensível, intimista e onírica.
Resultado de um gesto espontâneo, e ao mesmo tempo prudente, o processo de trabalho do artista é limitado pela quantidade de filmes que carrega consigo. Em plena época da globalização e da transformação digital, onde as imagens afloram com exagero, chega a soar estranho refletir sobre a forma como Bertrand constrói a composição de sua narrativa visual: suas fotografias são atemporais e estranhamente familiares.
A poesia das cores e das formas traduzem a imprevisibilidade da (im)perfeição do material escolhido por Bertrand que, ao mesmo tempo, é cúmplice dessa vulnerabilidade. O resultado que se vê são imagens coloridas ao acaso com contrastes pouco acentuados, propositadamente danificadas pela relação estabelecida entre o fotógrafo e o inesperado.
A materialidade imediata do objeto único gerado pela fotografia de Bertrand revela a ausência de premeditação sobre seu trabalho. Seu guia, para muito além da razão, é a emoção.
Exposição realizada na Aliança Francesa, unidade Faria Lima, São Paulo (2018).
Fotografias : Bertrand de Gouttes
Texto crítico : Marly Porto
Assessoria de imprensa : Flávia Fusco Comunicação