Das tantas miradas às mais de 12mil fotografias que guardo do arquivo público de Belo Horizonte, por muito tempo
me chamou a atenção um tipo de imagem recorrente neste arquivos: a presença recorrente de crianças nos eventos
políticos, seja na prefeitura ou em eventos externos, de inauguração ou qualquer tipo de apresentação. Presença que
serve bem a uma “humanização” dos senhores governantes, à politicagem. De todo modo, foram as crianças que me
chamaram a atenção, a presença que não faz pose, desatenta quando quer e às vezes atenta ao que ninguém
parece notar, assumidamente – e comicamente – entediada ou curiosa, uma presença que não participa ativamente
dessa mesma politicagem que as faz ilustres.
Me lembro do menino fardado exaltado pelo ex (des)governante da república, levado a carregar um fuzil de
brinquedo no palanque, posando pra foto, com uma aparência tristemente assustada. As crianças do arquivo, ao
contrário, não me fazem triste, algumas inclusive me fazem rir. Decidi, então, destacá-las. Destacar essa presença
sutil, mas cheia de agência. Destacar, também, a recorrência dessa presença, que é até hoje usada para a
propaganda política.
PS: Ressalto que o arquivo público de Belo Horizonte está ciente e autoriza (possuo documento de atualização) o
uso das imagens para a produção artística e desenvolvimento da série, além de serem imagens que estão em
domínio público.
