por Anna Paola Guerra
“…Portão aberto.
Rangidos. Indiferente.
Uma vaca-silêncio.
Eu nem olho para isso.
um dia isso
silêncio-vaca, isso
ranger
eles vão me bater,
perfeito,
existente na frente,
de costas, de perfil,
muito tangível.
Alguém pergunta ao vizinho:
Qual o problema com você?
E não há nada
Mas o som do portão, a vaca-silêncio.
…”
Carlos Drumond de Andrade
“são mangas amarelas
armadilhas calculadas, botões de rosa
hokus pokus babel. Psst, ptyx, bumerangues.
Armando Freitas Filho
Algo acontece entre o sujeito que fotografa e o objeto. Fotografia – via de mão dupla.
Para além dos automatismos de ver, perder e extraver. Os objetos se libertam de sua função, existem com força.
Coisas singulares que se expressam, nos olham e nos prendem. Capturam mais do que são capturados.
Dobra é uma série de fotografias feitas em distâncias espaço-temporais imprecisas, em caminhos diferentes, caminhos cotidianos.
A predisposição e o acaso fazem parte desses caminhos. Intersecção, troca, jogo, aparecimento, desaparecimento e transfiguração.