por Daniela Pinheiro
O ensaio fotográfico Nhak-krarati parte da vivência e conexão com a indígena Nhak-krarati do povo Mebêngôkre – Kayapó, no 18º Acampamento Terra Livre (ATL) que aconteceu no mês de abril, em Brasília, no ano de 2022.
A relação com Nhak-krarati se deu através de nossas expressões artísticas, não nos entendíamos pela fala, assim nos conectamos pelo olhar, pelo gesto, pelo afeto e principalmente pela arte. A primeira ligação se deu através da pintura corporal. Ôk, na língua Kayapó significa pintura. Todas as mulheres da aldeia sabem pintar pois aprendem ainda na infância.
À medida que Nhak-krarati ia traçando o jenipapo em meu braço, eu tentava ao mesmo tempo, fotografar e filmar, sentindo aos poucos os traços de sua pintura em meu corpo. Com a pandemia, muitos de nós perdemos o toque pela pele, nesse momento, de certa forma, retomava esse toque. No final da pintura, quando senti mais profundamente Nhak-krarati pedi a ela um retrato seu, e logo o fiz. A partir daí estabelecemos uma relação que nos acompanhou até o final do acampamento.
Através de Nhak-krarati tive a oportunidade de acompanhar as mulheres Kayapó, em um dos atos que fizeram parte da programação do ATL. As mulheres Kayapó são conhecidas no Brasil e no mundo como mulheres guerreiras, valentes que estão sempre na linha de frente nas lutas pela justiça, proteção de seus territórios e na defesa dos direitos individuais e coletivos. Sua casa é a Floresta. Elas moram no sudoeste do estado do Pará e no norte do Mato Grosso, vivendo na área de transição entre o cerrado e a Floresta Amazônica. O destino da marcha foi o Congresso Nacional onde tramitam projetos que violam os direitos dos povos originários.
Presenciar junto as indígenas Kayapó a manifestação de suas vozes contra a agenda anti- indígena do Governo Federal, fez com que materializasse esse ensaio fotográfico.